Beberei todo seu pranto


Garganta do Registro/Parque Nacional de Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, divisa Minas/Rio.

A série Beberei todo seu pranto retrata a Vida em agonia, o pranto pelo descompromisso, alienação e descaso do ser humano pelo próprio semelhante e pela Natureza. Desamparado, o ser humano geme; quase dizimados, os povos indígenas lastimam; desmatadas, as florestas soluçam; agredido, o meio ambiente sofre; desprezada, a natureza pranteia.... Não! Não choram por si mesmos, mas por cada um de nós, como no poema de John Donne, pois estamos interligados e somos parte da natureza...

Da vivência na rica e exuberante Itatiaia e do lamento das matas, surgem imagens francas que gritam, se juntam, se fragmentam e se sobrepõem, como se vida própria tivessem. Mas o olhar inquieto da artista não quer apenas reconhecer o real e refletir sobre ele. Com seu processo criativo em ambiente virtual, ao mesclar fotografia, criação, desenho, pintura e tecnologia digital, a fotógrafa e artista visual Vanessa CTReis quer intervir na realidade e devolvê-la reformulada. Manipular, desconstruir, fragmentar, recortar e sobrepor são o ponto de partida para novas intervenções, como em um moto-contínuo. Suas séries param, mas não se esgotam, podendo ressurgir sempre que uma nova reflexão ou vivência assim o exigir. Como um tema suspenso no ar por um fio invisível, as séries ficam dormentes, até que novo impulso as tire da imobilidade; não a das sepulturas e, sim, a que precede o ato criativo.

Depois da intervenção artística, a imagem, significante em si mesma, se apresenta ao outro e ganha novos sentidos. Produz outros discursos e narrativas que incomodam e provocam reflexões. Ressignificada, a imagem revela o oculto, mobiliza o indizível, desperta o adormecido. O olhar de quem contempla, contudo, nem sempre se dispõe a encarar imagens transformadas em arte-denúncia. Não importa. A arte de Vanessa CTReis não nasceu apenas para ser vista, apreciada ou não, a partir de um olhar estático e resignado. Surgiu com o fito de gerar emoções, reverberar e, sobretudo, suscitar uma ação afirmativa em prol da harmonia e do amor, da tolerância e da compaixão.

Sua arte pode causar desconforto, mas sem dúvida, amplia o olhar e a capacidade de reflexão do observador. O que é sempre válido, porque, afinal, embora fruto de um esforço isolado, o produto artístico final é inquestionável e jamais solitário: a Arte atinge e afeta multidões de corações, mesmo quando proibida, rechaçada ou censurada.

Anita Di Marco, tradutora e arquiteta. Desde 2007, ocupa a cadeira 19 da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências-AVLAC. Varginha, ago.2018. 

Ano: 2018
Técnica: Digital: Sobreposições de fotografias
Impressão fineart
Dimensões: 40x30cm
Série: Beberei todo seu pranto
Artista: Vanessa CTReis